sexta-feira, 15 de março de 2019

E se fosse só ela?

E na hora do almoço eu me peguei olhando pra Isabelle e pensando: e se fosse só ela? A minha vida seria mais tranquila. Não haveria gritaria em casa, nem confusão, nem implicância. Eu teria mais tempo livre, os dias seriam mais calmos, eu nunca iria saber que crianças não dormem a noite toda, nem que meu coração poderia amar outro ser com a mesma intensidade e paixão. Se fosse só ela, não seríamos nós. Ela seria o sol, a princesa, o jardim inteiro, meu céu, a vida toda só dela! Eu não saberia que crianças podem esperar, nem ela. Eu não saberia que minha paciência, embora pequena, também aumentaria. Eu não saberia que eu sobreviveria a um longo período de privação de sono. Eu não olharia com mais empatia para mães de dois, três, vários. Eu certamente iria me juntar ao coro das pessoas que afirmam que as mães tem um preferido. E ok, em um momento, um é preferido, no outro, já não é. Não há preferidos, há prioridades, quem precisa mais em determinado momento. Se fosse ela só pra mim e eu só pra ela eu não saberia que o irmão mais novo vai imitar o mais velho e o imitado sempre irá se irritar por isso, e ok, isso faz parte e se chama admiração.
Se fôssemos só nós duas, eu não saberia que ser requisitada inúmeras vezes ao dia e ao mesmo tempo não me enlouqueceria. Eu também não saberia a capacidade que teríamos de nos reinventar e crescer.
Pensando bem, se fosse só ela, eu seria frustrada, talvez até sem limites. Eu iria tentar dar o mundo pra ela, iria criá-la numa redoma, tentaria protege-la de tudo. E ainda assim, eu sei que seria ainda mais rígida com ela. A minha atenção seria toda pra ela, e sim, isso a sufocaria. Se fosse só eu e ela, a a cama teria mais espaço, eu teria mais tempo pra mim e pra ela, a vida certamente seria mais tranquila, mas haveria menos som, cores, sorrisos, descobertas e alegria. E eu nem saberia, e acharia que estava completa e realizada. Ainda bem que nós temos você, Maria!