quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Ah, esse amor!


Ah minhas filhas, um dia vocês vão entender o mais nobre, enlouquecedor e puro sentimento, aquele que faz a alma transcender.
Ah, esse amor!
É tão grande que chega a doer, no peito parece não caber. No olhar chega a transbordar, um rio faz jorrar e a boca sorrisos emoldurar.
Ah, esse amor!
De tão intenso chega a faltar ar, tão genuíno que faz levitar, tão simples quanto o respirar, tão forte como o coração a pulsar, tão claro quanto o sol a raiar.
Ah, esse amor!
Que faz o sono perder e a voz chega a faltar. O cético em Deus passa a acreditar, é ele quem tem esse poder, um novo sentido à vida dá, milagres faz acontecer.
É pesado. Leva ao limite da exaustão. Ensina sobre perdão. No peito faz brotar a compaixão e a gratidão.
Ah, esse amor!
Que faz perder o norte. O forte faz frágil e o fraco faz forte. A certeza por terra faz cair, e no coração duvidas surgir. Faz o humano se reinventar, sempre em busca por melhorar.
Ah, esse amor!
Avassalador, arrebatador.
Fonte de cura, ternura, esperança, confiança, leveza e beleza.
Vem da alma. Não dá para explicar. É profundo, não é desse mundo. É humano, mas se aproxima do divino. Exerce um inexplicável fascínio. É indescritível, infinito, não dá para dimensionar, nem comparar. É pleno, absoluto, incondicional. Assim é o amor por um filho, exponencial, irracional.
Ah, esse amor!
Texto: Lívia Lins Torquilho

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O amor que que faz voltar e ficar

E hoje eu perdi a linha. Ali, na hora do almoço, ou melhor, após os 60 minutos do início do almoço (sem fim) da Isabelle, entre brigas de crianças e uma dona de casa estressada tentando resolver a falta de energia de casa, tentado entender o funcionamento do quadro elétrico, que eu me descontrolei e descontei nelas, a minha frustração, a minha falta de paciência, a minha vontade de fugir.
Segundos antes, eu pensei que seria melhor eu sair dali, de perto delas. Mas não, eu não fiz, por responsabilidade e compromisso com elas e comigo.
Briguei, gritei,  descontrolei-me, tudo que o manual da boa mãe manda não fazer. Peguei Maria no colo, fui colocá-la para dormir. Isabelle ficou chorando, pedindo desculpas e pedindo atenção. Eu precisava sair dali, me acalmar para voltar e falar com ela.  Depois que Maria dormiu, fui conversar com a Isabelle. Ela pediu para dormir comigo e eu fiquei pensando: “é Lívia, você nunca mais será amada desse jeito.” Eu acabei de gritar e brigar com a menina e ela vem, pede colo, carinho, aninha-se nos meus braços e dorme um sono sossegado e tranquilo. E aí foi a minha hora de chorar de culpa, de fracasso, de frustração.
Minhas duas meninas dormindo ao meu lado e eu só pensava: um dia vocês vão me entender. Vocês, se Deus permitir, terão filhos, e vão sentir na pele e nos ouvidos o que é não ter mais uma refeição em tranquilidade, o que é não ter mais direito de uma visitinha ao banheiro com privacidade, vão perceber que já não são donas das próprias decisões, que tudo, absolutamente tudo o que vocês decidirem, será baseado no bem-estar dos filhos de vocês. Vontade até se tem de sumir, de fugir, mas há um a força maior, um cordão invisível que sempre nos leva de volta e nos faz ficar, mesmo estando à beira de um colapso nervoso. É o preço que se paga por esse amor... incondicional.

Texto: Lívia Lins Torquilho

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Maria & Fernanda


Maria. Era para ser Maria Flor, mas o pai, o pai não, aquele “carinha” lá do cartório preferiu Maria Fernanda.
Eu tenho pra mim que a Maria é a menina doce e apaixonante e a Fernanda é a pimentinha travessa e implicante. A Maria é a melhor companhia, a topa tudo, a criaturinha mais empolgada que conheço. A Fernanda bate pé e bate de frente, é decidida e independente (apesar dela usar o “Mamá tó”). A Maria tem um sorriso encantador, tem a voz doce que desarma, amolece e ganha qualquer um. A Fernanda não nasceu pra ser coadjuvante. A Maria é calmaria, a Fernanda é furacão. Maria é festa de Natal, Fernanda é terça feira de Carnaval (pedindo a Deus que nunca acabe). A Maria é uma graça e a Fernanda é cheia de graça. Que sorte a minha de ter duas numa só!

Texto: Lívia Lins Torquilho
22/02/2018
Maria – 29 meses

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Adaptação da Maria na Escola



1º dia: O Igor deixa elas (Isabelle e Maria) na escola. Antes das 8:00 eu chego na escola para ele ir trabalhar e eu ficar à disposição da Maria. Fiquei me escondendo pela escola, mas ela nem tchuiu para mim. Na sala de aula, ela ficou quietinha, sem querer conversa com ninguém, as outras mães até comentavam que ela era a que estava sentindo mais. Mas na verdade, ela estava observando tudo, se ambientando. Levei-a para casa às 9:30.
2º dia: O Igor deixo-as na escola. Às 8:00 eu chego na escola, fui até a sala da Maria e vi que ela estava super bem. Fiquei no pátio por 10 minutos e decidi ir embora, falei com a coordenadora para caso a Maria chorasse, me ligassem que voltaria de imediato. Voltei para busca-la às 10:00. Ela foi todo o caminho no carro falando: EU-NÃO-QUE-LO-IR-PLÁ-CA-SA!
3º dia: O pai deixou na escola e seguiu para o trabalho, eu só fui para a escola às 10:30. Maria estava no parquinho com as outras crianças, não me viu. A professora falou que ela estava muito bem, que se eu quisesse poderia ir busca-la só às 12:00. Eu dei meia volta e voltei a trabalhar.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Frustração e a mudança de humor

Uma semana de aula. Duas reclamações, na mesma semana. O comportamento instável da minha menina. Basta uma frustração e o humor dela desanda. Coisa de menina mimada. Mas quem mima? Eu sou uma mãe chata, ruim mesmo. Daquelas que ela, Isabelle, olha e diz: "eu não gosto de você". Essa frase, que já nem me ofende, é o meu indicador de que estou no caminho certo. Sempre que essa frase é proferida, eu olho para ela (olhos nos olhos) e explico: “você tem todo o direito de não gostar de mim, mas eu sou sua mãe e mesmo que você não goste, você vai me obedecer e me respeitar. E se eu não faço o que te convém só para te agradar é porque eu te amo infinitamente e eu não quero criar um ser humano desagradável, que no futuro as pessoas não irão querer ter por perto”.
Frustrar minha filha nunca foi problema para mim, acredito que faz parte da boa educação. Crianças frustradas se tornam adultos melhor resolvidos. Não ter tudo o que se quer, receber “nãos” faz parte do aprendizado e do amadurecimento. Não há formulas para criar um ser humano. Isabelle tem 5 anos, a fase da birra ainda persiste. Isso me irrita, me frustra. Não sou omissa, tento ser o mais presente possível. Converso, oriento, explico, mas ela tem mudanças de humor em cada frustração.
"Isabelle, eu tenho um segredo para te contar: eu também detesto ser frustrada, não conheço um ser humano que goste. Mas a gente tem que aprender a superar. Pode até chorar, gritar, esmurrar a parede. Desabafar, de alguma forma, alivia. Frustar-se dói, mas superar nos faz crescer! Minha filha, a mamãe também se sente frustrada vez em quando, no entanto, eu não saio batendo o pé, nem me jogando no chão. As lágrimas, às vezes, insistem em cair, e, por vezes eu também prefiro ficar só no meu cantinho. Isso não é errado e nem nos faz menos fortes. O que não legal é não externar/ expor nossos sentimentos. Quando expomos o que sentimos é mais fácil resolver os problemas. Tente resolvê-los rapidamente. Não perca os momentos preciosos de aprendizagem, brincadeiras e convivências com as pessoas que te cercam por bobagem, birra ou orgulho".
Ter o filho elogiado é balsamo para alma. Mas quando vem reclamações, o sentimento é de frustração, de derrota. É como receber uma prova com nota insatisfatória. Se eu me sinto triste? Claro, mas acho muito importante esses “feedbacks”. São eles que me orientam, que me norteiam na educação das meninas. Há um ditado africano que diz: “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”.  Eu sou muito grata às pessoas que nos cercam e que demonstram afeto e cuidado conosco. É difícil criar um filho, é responsabilidade grande, talvez o meu maior desafio da vida. Não sou perfeita, nem sou sabedora de todas as coisas, mas saber que tenho pessoas que nos apoiam e nos ajudam nessa jornada torna o caminho mais leve.

#devaneiosdelivia