terça-feira, 14 de março de 2017

A maternidade e a culpa

Ontem estava observando Isabelle dormir e fiquei pensando: "meu Deus, como é que eu já sou mãe de uma menina desse tamanho?" Onde que eu estava que não vi ela crescer? Parece que eu fui dormir e quando acordei, catapufiti, ela tinha crescido.
Ela está na melhor fase dela, questionadora, observadora, argumentativa, explicativa. Óbvio que vez por outra ela faz birra, tem umas chaticezinhas, mas nada comparado aos "terrible two" ou aos "threenage". E sabe, eu não tenho saudades. Eu tenho culpa. Culpa por não ter sido madura o suficiente para perceber que eram fases. Culpa por ter exigido dela um amadurecimento que não era inerente à idade. Culpa por achar ela tão esperta que compreendia tudo e se comportar mal, no meu ponto de vista, era inadmissível. Culpa por não tê-la encorajado a expor e expressar verbalmente o que ela sentia, ao invés de se comportar de maneira inadequada. Culpa por não ter paciência. Ah, a maternidade, quem disse que é fácil?
Eu lembro da dificuldade que é SE encontrar na maternidade. Amamentar dói. Sangrar por dias, sem previsão do fim, é cruel. Privação de sono. Hormônios enlouquecidos. Trocas de fraldas, golfadas, cólicas, palpites (até do Zé da esquina que nunca te viu na vida). Mas passa, os dias passam, você descobre que as noites são longas e os anos são rápidos demais.
Então a gente descobre que uma coisa não passa: a culpa. Ah, ela vai nos perseguir por toda a vida, ela até muda de motivo, de contexto, mas não existe maternidade sem culpa.
Outro dia cruzei com uma vizinha com um bebê de dias no colo, olhei pro bebê, olhei para a mãe e tentei lembrar de como era minha rotina quando a Maria tinha aquele tamaninho. Mas eu não lembrei, isso não significa que eu esqueci, eu apenas hoje enxergo todo aquele caos dos primeiros dias (que foram infinitos) com ternura. É como se tivesse uma névoa cobrindo a memória, eu não lembro do caos, eu recordo dos sentimentos. Tinha muito amor, muita dedicação, muita frustração, muita alegria, muito cansaço, muito medo, muita ansiedade, mas também tinha muita culpa. Eu senti tanta culpa por não ser mais a mãe exclusiva da Isabelle, lembrei do tanto que sofri e chorei, e ela chorou e sofreu até encontrarmos o equilíbrio desse relacionamento a três que agora temos. Naquele momento tudo o que eu desejava era que aquela mãe tivesse mais plenitude, mais calma e amadurecimento e que não tivesse pressa por viver esse momento. Vontade de dizer pra aquela mãe: "curte, mulher, só se é mãe desse bebê uma vez. Eu sei que agora tudo parece difícil e infinito demais, mas acredite, passa, e passa rápido demais. Não seja tão exigente com você. Curte esse momento, curte essas olheiras, esses peitos hora cheios, hora murchos, essa barriga flácida e até o esquecimento de escovar os dentes, que muitas vezes você só lembrará quando chegar no fim do dia. Curte o teu bebê, curte essa dor dilacerante que é amamentar, porque quando você sequer perceber, você estará sentindo prazer por alimentar não só fisicamente, mas emocionalmente seu filho. Curte essas noites longas e mal dormidas (eu sei que ficar sem dormir é foda), é no silêncio da noite que o cheiro do teu bebê vai entranhar na sua alma e é ali no seu aconchego que você terá colo. O colo do teu filho. Desfruta dessa paz, a paz que só quem tem um bebê no colo, ambos totalmente entregues, sente. Ah, o cheiro de bebê, se desse pra guardar num potinho.... Chora, mulher, chora o que quiseres chorar, esse choro irá te curar e te fortalecer. Viva intensamente tudo isso, depois você não lembrará de nada com clareza, será como um sonho distante. Só se lembrará do que sentiu. E não se esquece de se perdoar, todos os dias, por aquela culpa que irá te acompanhar para todo o sempre".

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