quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Redenção astral

Crianças são seres evoluídos. Acredito que a medida que crescemos somos alterados. O sistema, a sociedade, o meio, nos modifica. Acreditamos ficarmos mais forte, mais inteligentes, porém perdermos as qualidades mais nobres.
Esses últimos dias Isabelle tem me ensinado bastante.
  • Isabelle foi diagnosticada com pneumonia. Enquanto eu procurava uma lógica para ter me antecipado a doença. Ela entendeu o diagnóstico e o tratamento. Nos primeiros dias ela reclamava do gosto do remédio, mas logo percebeu a melhora e se animou em tomar as dosagens corretas. E com amor, cuidado, troca e paciência, ela ficou boa.
  • Isabelle chega no salão e pede para manicure fazer a caricatura dos “pj masks” nas unhas dela. A manicure tenta dissuadi-la. Mas é difícil convencê-la depois que ela toma uma decisão. Ela insiste. A manicure enfim revela que não sabe fazer tais desenhos. Isabelle, questiona o que ela sabe desenhar. A mulher fala que pode desenhar corações, flores, o que ela quiser. Minha menina instiga: “mas esses desenhos até eu sei fazer”. A profissional se sentindo desafiada aceita tentar desenhar os pequenos heróis nas unhas dela. E ficou uma obra de arte. Ambas ficam felizes e realizadas!

Quando a manicure tentou dissuadi-la, eu não gostei da maneira que ela falou, em tom de deboche. Mas a Isabelle não entendeu dessa forma (graças a Deus), ela com toda sua pureza, encantou a profissional e de uma forma doce, porém desafiadora, convenceu a profissional a fazer o que ela desejava. Enquanto elas conversavam, eu apenas observava. Não me meti. Ela foi firme, não se deixou convencer com a opinião alheia. Por fim, conquistou o que queria, com palavras, com carisma, com encantamento. Que orgulho eu tenho dela!
  • Isabelle fraturou o dedão do pé brincando na escola. Quando eu soube que ela teria de engessar a perna só por causa de um dedo, fiquei irritadíssima. Tá, eu não sou médica, eu desconheço os procedimentos. Mas não é exagero? Só por causa de um dedo? E a mãe que sofre por antecipação, já prevê tudo que a menina será privada de fazer. E pensa: “vai passar o aniversário com o pé imobilizado já que serão 21 dias de gesso”? (Não, isso definitivamente não estava nos planos). Ainda bem que em casa temos equilíbrio. Enquanto eu só enxergava o lado negativo (a coceira, o banho, ela não poder brincar no parquinho, não poder dançar), o pai mostrava quão legal pode ser ter uma bota de gesso (poder desenhar, andar com saltinho). Isabelle apenas escutou e observou. No dia seguinte, ao acordar ela foi logo falando: “mãe, no meu aniversário eu não vou estar de botinha. Eu vou tirar um dia antes”. Ela já tinha negociado com o pai.

Eu, no meu instinto de proteger a menina, atropelei tudo, falei o que não devia (na frente dela), não facilitei. Ainda bem que ela tem pai! Ainda bem que somos uma equipe!  Os dias estão passando, ela até agora não reclamou de nada: de incomodo, coceira, dor. Nada! Se adaptou a botinha muito rápido, faz movimentos como se a bota não existisse. O gesso já está todo riscado, enfeitado, e ela está feliz, faceira. E quando eu pergunto se na escola ela brinca no parquinho, já que no recreio os amigos todos fazem uso dele, ela responde: “não, mãe, eu fico na sala brincando de jogos. Eu gosto de brincar com jogos”! Obrigada Isabelle, por facilitar as coisas para mim e pra você! Por fazer de um limão uma limonada! Por me mostrar leveza e alegria até no que não é tão positivo.
E eu sigo tentando aprender a não sofrer por antecipação, a não fazer tantos planos e não querer ser senhora do destino. E eu achando que estava no meu 3º inferno astral do ano (inferno astral de filhos, atingem as mães), acabo de perceber, mais uma vez, paz no caos. Estou na minha redenção astral.
Ela faz cinco anos em duas semanas. E eu tenho a certeza de estar caminhando na direção certa. Reconheço erros, mas sei que há mais acertos. Assim como sei que nesse caminho ainda haverá bastantes tropeços, mas sempre estaremos juntos, crescendo, nos apoiando, aprendendo, ensinando e evoluindo juntos, como família. Cada experiência, cada toque, cada olhar, desde o momento que ela nasceu, hoje é refletida nas suas atitudes. O tempo que investimos, hoje dá frutos. Nós, como pais de primeira viagem, errantes, e sedentos de fazer o melhor, tínhamos muito medo de criar uma criança insegura, dependente de nós. Mas com ela a gente aprendeu que amor em excesso, na formação do indivíduo, torna pessoas seguras, bem resolvidas, independentes.

Lívia Lins Torquilho

10/11/2017

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