Por muito tempo a culpa me
consumia. Me cobrava por não ter conseguido manter a “sanidade” no puerpério da
Maria na minha relação com Isabelle. Foram dias tão difíceis, pesados e
confusos. Era um turbilhão de sentimentos e eu não soube lidar com os hormônios
e aquela avalanche de emoções. Isabelle
era tão pequena, era só uma criança de 2 anos pedindo colo, mas eu estava tão
cansada, tão apavorada que não soube entender sua suplica. Quando fecho os
olhos, ainda consigo escutar seu choro na porta do quarto pedindo atenção e
carinho. Ela não conseguia expressar em palavras seus sentimentos e eu não
soube entender seu pedido. Ela chorava,
e eu “tentava” ignorar. Faltou empatia, serenidade, calma. Eu não soube acolher
(sua dor e seu amor). Eu não consegui demonstrar que o meu amor por ela
permanecia inalterado. A nossa rotina tinha mudado, o foco, a vida. A gente se
distanciou. Eu falhei. Com ela e comigo. E essa é uma dor minha, uma ferida que
ficou aberta no meu peito por muito tempo.
Há alguns dias recebi uma missão
da escola das meninas: selecionar doze fotos por criança para o dia das mães. E
foi um mergulho nas lembranças.
As minhas filhas tiveram mães
completamente diferentes no início das suas vidas. Embora eu tenha cometido
erros (tentando acertar) e acertos, e continue tentando e aprendendo e perdendo
a paciência, e surtando de vez em quando, e tentando mais uma vez, estamos
sobrevivendo e eu tenho certeza, pelos registros que eu vi, que a gente tem uma
vida massa para caramba. As meninas são crianças felizes.
E eu, que sempre digo para elas
que elas são a luz dos meus olhos, percebi, através de inúmeras fotos, que eu
sou o sol delas. Que mesmo quando eu não estou olhando, é para mim que os seus
olhos estão voltados. As fotos sem noção que eu tiro, fazendo caras e bocas,
saltando, e deixando capturar toda a emoção, energia e vitalidade que há em
mim, elas também já fazem. Nossos registros são de momentos, de vida, de
emoções. No nosso álbum de fotografias, cada foto conta uma história, e a gente
tem mania de colecionar momentos. Foto posada, penteada, e com postura
impecável, contamos nos dedos. Foto boa é aquela que a gente viaja no tempo e
consegue, fechando os olhos, escutar os sons, sentir os cheiros e sorrir de
gratidão e leveza da alma.
Enquanto eu re-visitava as nossas
memorias através das fotos, eu percebi que a ferida aberta já estava
cicatrizada e eu, que sempre achei que a Maria fosse o meu grudinho, e a
Isabelle minha menina independente que se “afastou” da mãe, vi que o meu
imaginário é bem maior que a realidade. A Maria, infelizmente, nunca terá a mãe
que a Isabelle teve, nem as dores da irmã. A gente segue tentando se ajustar,
dia-a-dia. Aprendendo, errando, acertando. E nessa dança da vida, eu sei que
ainda vou balançar e suar um bocado. Mas lá no futuro, eu sei que a gente vai
olhar para trás e ter certeza que tivemos uma vida leve. E a paciência, às
vezes, até faltou, mas o amor, esse sempre imperou!
Texto: Lívia Lins Torquilho
#devaneiosdelivia
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