Duas horas de almoço!
Buscar criança na escola,
negociar na saída da escola os cinco minutinhos a mais para que ela possa
brincar (já que a manhã inteira não foi suficiente). Chegar em casa e
administrar o tempo do almoço, colocar crianças para dormir e ensinar tarefa de
casa.... Não necessariamente nessa ordem. Na hora do almoço tem reclamação que
a comida é ruim, que não gosta da carne, que tem cheiro verde, que blá, blá,
blá! A mãe dá a primeira surtada e então a comida passa a não ter defeitos, já
que a criança começa a comer tudo, sem reclamações, só do meio pro fim (acho
que esquece da surtada) surge a dor de barriga, o sono, a negociação pelo
celular (mãe, enquanto eu como, eu posso jogar só um pouquinho?) Aí, vem a hora
da tarefa: não quer escrever o nome, nem pintar, finge não ouvir as
explicações, não capricha... A mãe surta novamente, e tcharãm: a tarefa é feita
em cinco minutos, caprichosamente! Hora de colocar para dormir: mando uma para
o quarto, e a outra levo pro outro. Tem dias que 10 minutos são suficientes
para ambas dormirem... Pois é, tem dias...
Hoje, eu invoquei todos os
santos, todas as almas encarnadas e desencarnadas, espíritos de luz, e amigos
imaginários, qualquer ajuda era bem-vinda, não teve jeito! Foram 60 minutos
tentando colocar uma criança que minutos antes tinha pedido para dormir. Ela
deita ao meu lado e começa a sessão de tortura, belisquinhos e beliscões, eu já
sem paciência e vendo que a beliscando de volta não estava surtindo efeito,
declarei que o próximo belisco, eu confiscaria a chupeta, e assim o fiz.
Adiantou? Adiantou para ela abrir o berreiro e prometer que não me beliscaria
mais. Não devolvi a chupeta. Eu sei que tomei a decisão mais complicada para
mim, mas a que achei correta, não obedeceu, foi punida. Só que quem foi punida fui
eu, porque a menina até parou de chorar, mas enquanto eu fingia/ ou tentava dormir,
ela conversava com todas as criaturas que eu tinha invocado, ligava para a
Minnie, pegava o travesseiro e montava em cima fazendo de cavalinho, me
chamava, fazia carinho em mim, tudo ela inventou. Já sem paciência e surtando
(valendo), derrubei todos os oito travesseiros da cama e sai do quarto. Não
quer dormir? Pois ok, só sai daí quando acordar, ou quando eu voltar do
trabalho. Quando abro a porta do quarto, a outra filha está deitada no chão me
esperando para ir deitar com ela! Obrigada, Senhor, pelas duas horas de almoço
que não são suficientes para mim!
Sabe aquele emotion do WhatsApp da
mulher dançando linda, plena e vitoriosa? Não se encaixa para mim hoje. Sai de
casa, com uma dor de cabeça terrível, com duas crianças berrando uma em cada
quarto e ambas de castigo, só saem quando acordarem para aprenderem a ter
rotina e não perturbar mais minha hora de descanso. Nesse momento, eu clamo ao tempo
que dê uma acelerada para que a noite chegue logo e eu possa dormir, de preferência
sem crianças a me encher a paciência (que eu não tenho).
Se os meus vizinhos não tiverem
filhos, devem me achar a louca, se tiverem me entenderão. Se você que está lendo
esse relato, estiver me julgando, vá arrumar uma criança pra cuidar e seja
feliz com seus conselhos e pré-conceitos. Agora, se rolou empatia, pode chegar
lá em casa nesse horário do almoço que estou aceitando ajuda!
Texto: Lívia Lins Torquilho
#devaneiosdelivia
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