segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Eles crescem e a saudade fica

Desci no elevador com uma mãe e seu filho recém nascidos. Ao olhar pra o bebezinho, eu só consegui falar: a gente esquece que eles já foram desse tamanho!
Se eu tenho vontade de ter um terceiro filho? Não sei se a palavra é vontade, eu tenho saudade. Saudade não do barrigão, dos pés inchados, dos quadris largos que modificam o caminhar, das roupas apertadas ou da bexiga comprimida, tenho saudade da sensação de sentir o bebê mexer, de me sentir plena, de vivenciar o próprio milagre da vida. Saudade não do medo e de toda insegurança de ser capaz de amar outro filho como amo as outras, tenho saudade do primeiro encontro. Saudade não da dor de amamentar, tenho saudades do momento da amamentação, de sentir toda entrega e troca, do olhar do verdadeiro amor, de ser fonte de vida, de ser e ter colo. Saudade não das noite mal (não) dormidas, saudade do aconchego, do calor. Saudade não de viver “cheirando” a leite (azedo), mas do cheiro da nuca e do bafinho do bebê. Saudade das mãos gordas e da pele macia. Saudade não da solidão da maternidade, do baby blues, de me sentir perdida, sinto saudades de cantarolar e dançar o dois pra lá e dois pra cá e a criança se aninhar, se aconchegar, se encantar e nos meus braços adormecer. Saudade de ter um ser que se encaixa em meu peito e é tão frágil, miúdo, mas que me faz uma gigante para enfrentar meus medos, angústias e me transformar em uma mulher tão forte. Saudade de REconhecer o amor, um amor forte e avassalador. Saudade não do caos dos primeiros meses da maternidade, saudade de agigantar mais uma vez o coração. Saudade de amar mais uma vez incondicionalmente.
O elevador abriu as portas e eu me despedi: eles crescem rápidos demais e fica só a saudade!

Texto: Lívia Lins Torquilho

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