sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O amor que que faz voltar e ficar

E hoje eu perdi a linha. Ali, na hora do almoço, ou melhor, após os 60 minutos do início do almoço (sem fim) da Isabelle, entre brigas de crianças e uma dona de casa estressada tentando resolver a falta de energia de casa, tentado entender o funcionamento do quadro elétrico, que eu me descontrolei e descontei nelas, a minha frustração, a minha falta de paciência, a minha vontade de fugir.
Segundos antes, eu pensei que seria melhor eu sair dali, de perto delas. Mas não, eu não fiz, por responsabilidade e compromisso com elas e comigo.
Briguei, gritei,  descontrolei-me, tudo que o manual da boa mãe manda não fazer. Peguei Maria no colo, fui colocá-la para dormir. Isabelle ficou chorando, pedindo desculpas e pedindo atenção. Eu precisava sair dali, me acalmar para voltar e falar com ela.  Depois que Maria dormiu, fui conversar com a Isabelle. Ela pediu para dormir comigo e eu fiquei pensando: “é Lívia, você nunca mais será amada desse jeito.” Eu acabei de gritar e brigar com a menina e ela vem, pede colo, carinho, aninha-se nos meus braços e dorme um sono sossegado e tranquilo. E aí foi a minha hora de chorar de culpa, de fracasso, de frustração.
Minhas duas meninas dormindo ao meu lado e eu só pensava: um dia vocês vão me entender. Vocês, se Deus permitir, terão filhos, e vão sentir na pele e nos ouvidos o que é não ter mais uma refeição em tranquilidade, o que é não ter mais direito de uma visitinha ao banheiro com privacidade, vão perceber que já não são donas das próprias decisões, que tudo, absolutamente tudo o que vocês decidirem, será baseado no bem-estar dos filhos de vocês. Vontade até se tem de sumir, de fugir, mas há um a força maior, um cordão invisível que sempre nos leva de volta e nos faz ficar, mesmo estando à beira de um colapso nervoso. É o preço que se paga por esse amor... incondicional.

Texto: Lívia Lins Torquilho

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